aunedii

cavalo.

O Bojack Horseman é um personagem escrito para cutucar um lado dos espectadores, um lado incômodo porque ele é um personagem profundamente falho, com pensamentos, inseguranças e comportamentos que faz com que você se veja nele. Um personagem lixo em muitos sentidos: egoísmo, autodestrução, evita lidar com traumas e abuso de substâncias.

Assim como você João, o Bojack é autoconsciente da suas atitudes ele sabe que erra e ainda assim não sabe como quebrar o ciclo, ele mascara seu sofrimento com piadas e carisma, ele sempre está na busca de propósito e conexão. Nos identificamos com ele porque a série retrata de forma exagerada mas verdadeira, padrões sociais como procrastinar e fugir de responsabilidades.

Agora eu venho aqui e me pergunto porque eu me identifico com ele? Somos falhos com certeza, ele provoca um sentimento de raiva em mim e ao mesmo tempo relatividade porque realmente nos vemos nos papéis dos personagens na série. Me sinto igualmente inútil e quebrado, as vezes problemas por causa dos traumas, mas nada disso é desculpa para agir de certa maneira. Oque me leva a agir assim? Às vezes confundimos saudade de alguém com saudade de quem nós eramos quando estavamos com essa pessoa.

Entendo exatamente oque tem de errado comigo e no mundo, tenho uma lucidez brutal sobre meus sentimentos, sobre a perda e a intensidade do amor, mas essa lucidez não vem com guia de instrução de como agir diferente oque acaba me prendendo em paralisia, vejo um abismo e ao invés de construir algo para passar eu fico olhando, até tento construir mas acabo me autossabotando. Sartre diria sobre uma espécie de "náusea existencial" Camus sobre o "absurdo da vida" oque é meramente a perda de sentido ou tomar consciência de que não existe significado intrínseco na vida.

Não me vejo digno de amor, foi oque eu aprendi durante a vida, ainda assim me vejo na busca incessante por validação e algo que me faça sentir. Agora com a perda de tudo isso, tudo isso que a ★ me mostrou e agora sem isso me vejo perdido nessa "náusea", quando estava com ela sentia que havia um "eu melhor" por assim dizer e, quando ela foi embora, parece que a prova de que eu posso ser um ser de amor foi embora e só restou escuridão. Platão disse no "Banquete" que o amor é buscar completar algo perdido, porém, quando essa completação vai embora, o amor e a falta vira dor.

Quero mudar realmente, até tento, mas parte de mim, parte do passado fala que isso é inevitável, eu mereço passar por isso ser assombrado pelo zeitgeist do meu passado. Para sumir um pouco dessa responsabilidade acabo me entorpecendo, como um refúgio, uma maneira de me perder e "desligar", até porque sem consciência automáticamente não sentirei, porque sentir demais cansa. Schopenhauer diria que a vida é sofrimento e buscamos escapar não por felicidade mas por não aguentar mais o peso da dor, me vejo muito nessa situação entorpecer me faz vagar pelo ar, sinto vontade de melhorar e sinto uma vontade maior ainda de me entorpecer... continuar no ciclo. ★ me trouxe luz, esperança e mais importante amor. Também me trouxe ódio, frustação e imponencia. Tudo que vi e vivi com ela, fico preso no lado bom e ignoro o ruim e no fundo parte de mim acha que não mereço viver bem sem ela, mas ela me fazia bem? É díficil colocar tudo na balança eu empurro a pedra chego num local agradável e não importa a pedra começa a rolar de novo abaixo.

Simplesmente parei de te mandar mensagem, parei de buscar sentido em você, deveria achar sentido no caminho, aprender quem eu sou, oque eu quero, você faz parte dos meus desejos e procuro entender como lidar com o bom e o ruim que vem deles. Começar a cultivar pequenos hábitos de auto-amor comigo mesmo e o mundo. Eu te amo, eu te odeio... isso traduz pra minha própria confusão mental e autocrítica, te crítico por egoísmo e não me enxergar, sentir inválidado, invisível. Mas eu quero ser lembrado na mente dela e me odeio por não ter consiguido ser luz o suficiente, na verdade eu deveria ser minha própria fonte de luz e não viver orbitando outro astro.

Sou, eu, um diário aberto, surfista do cotidiano e dos pensamentos, buscando por sentido num mar de absurdos. Não nego a dor, acolho-a como parte legítima de mim. Não abro mão daquilo que ela despertou, agora assumo essa parte como minha. Transformo meu sofrimento em arte, memória e saudade de presença interna. I will cherish all the days we had together.